Hoje quero falar de uma das pinturas mais famosas de Jan van Eick, um pintor absolutamente estonteante que tem, na minha opinião, talvez a pintura mais fantástica de toda a história, no entanto, hoje irei falar do Casal Arnolfini, também apelidado de Casamento Arnolfini.
Jan van Eick trabalhou em vários contextos, como o religioso e o privado, mas para esta pintura, é de salientar o seu serviço para o Duque de Borgonha. Borgonha era uma das regiões mais ricas da Europa no século XV e o seu duque controlava territórios tantos na Alemanha como na Flandres; era na Flandres que vivia o casal Arnolfini e era também lá que se encontrava van Eick, ao serviço do Duque, levando assim à criação desta pintura. O casal Arnolfini era um casal de mercadores bastante abastados e influentes, após a morte do casal, esta pintura acaba na coleção de arte do Rei de Espanha. Esta imagem suscita grande discussão e interesse, há muito coisa a dizer sobre ela.

O mais fácil de caracterizar é o tema da opulência e do exibicionismo de dinheiro, mesmo que de uma forma dissimulada e subtil, típica dos Holandeses, menos exibicionistas do que os latinos no sul da Europa.
No canto superior vemos a janela, coberta de vidro, este é um primeiro sinal de classe alta, neste momento da história o vidro era caro e raro de se ver, as janelas eram normalmente cobertas com portadas de madeira. Logo abaixo vemos outro símbolo, os frutos, neste caso são as apelidadas "maçãs do eden" que van Eick encontrou numa viagem à Península Ibérica ao serviço do Duque da Borgonha, serviu de emissário a Portugal antes do casamento do Duque com D.Isabel de Portugal; os frutos não só simbolizam a vida e a nutrição, como o poder monetário de quem os exibe assim de forma praticamente despreocupada.
O candelabro é outro símbolo de riqueza, por razões óbvias, e o espelho logo abaixo assume um papel central, não só é algo opulento, caro e raro, como é lá que van Eick coloca a sua assinatura "van Eick esteve aqui" no reflexo conseguimos ver que duas figuras estão à frente o casal, sendo uma delas o próprio van Eick.
As suas vestes são outro símbolo de opulência, feitas de peles de centenas de animais, o destaque sendo o casaco verde da Senhora Arnolfini, coberto por dentro de pele proveniente das barrigas brancas de talvez milhares de esquilos. O último grande símbolo é o cão de estimação, tais espécies, sem nenhum valor prático aparente, eram sinal de riqueza e de capacidade monetária por parte dos donos.
Esta pintura esconde no entanto outros significados. Em primeiro lugar o mais óbvio, a barriga da Senhora Arnolfini, alguns dizem que é apenas uma pose e que ela é que está a segurar o vestido, outros dizem que está de facto grávida.
No entanto várias pistas indicam o carácter possivelmente sombrio desta imagem, reparem como o senhor Arnolfini está vestido de escuro, com uma expressão sombria; ele está do lado da luz, do lado da rua, os seus sapatos estão ali prontos para sair pela porta, do seu lado, a vela do candeeiro está acesa, do lado da sua esposa, apagada e consumida, no espelho a via sacra, todos os momentos de Jesus vivo do lado dele, todos os momentos do Jesus morto do lado dela, na cabeceira da sua cama, a Santa protetora das grávidas, os sapatos da Senhora Arnolfini prostrados diante do espelho no local da sua reza, a mão dela que jaz tombada sobre a dele sem o agarrar.
A visão mais aceite, é de que a senhora Arnolfini morreu enquanto estava grávida, perdendo-se ela e o seu filho, o retrato é uma forma do Senhor Arnolfini a honrar postumamente, mostrando-a da forma mais opulenta possível, enquanto ele jaz apagado e soturno, agora sozinho.
Comments